Cobrindo as cabeças com suas
respectivas camisas e vociferando palavrões a todo pulmão no meio da torcida
colorada – esta foi a criativa estratégia adotada pela dupla de radialistas
Marcelo de Carvalho e Pato Rouco, de Cuiabá, para sair do Estádio Luthero Lopes
sem entrar na porrada dos enfurecidos torcedores do União. O fato se deu em 5
de maio de 2008, um dia frio e de triste
memória para o futebol de Rondonópolis e de Mato Grosso, marcado por cenas de
violência e vandalismo, que inclusive obrigaram a Polícia Militar a apelar para
cassetetes, gás de pimenta e até bombas de efeito moral para conter os
torcedores mais exaltados...
Depois de um jejum de 12
anos – o último título conquistado pelo Mixto tinha sido em 1996 – o alvinegro
foi a Rondonópolis decidir o campeonato daquele ano contra o União. A diferença
técnica entre os dois era incomensurável. Enquanto o União, patrocinado pelo poderoso
Grupo Amaggi, cujo comandante era o então governador Blairo Maggi, havia
montado um time para ser campeão, o Mixto...
Com tanto dinheiro do rico
patrocinador, os jogadores do União eram tratados a pão de ló e o Mixto na
pindura de sempre dos últimos anos. Na viagem para a Rondonópolis, às vésperas
do importante jogo, os defensores do “Tigre da Vargas” foram comendo pastéis
pela estrada afora
A certeza da conquista do
título pelo União era tanta que familiares e amigos dos jogadores já tiravam
fotos no vestiário com as faixas de campeão. Com a presença do governador
Blairo Maggi no Luthero Lopes, um caminhão do Corpo de Bombeiros já estava
estacionado estrategicamente em uma rua nos fundos do estádio para a carreata
da vitória. Não tinha erro...
A bola rolou no campo e o
União simplesmente massacrava o Mixto. Era um ataque atrás do outro. Mas aí
apareceu um jogador que desde os primeiros minutos roubou a cena do espetáculo:
o goleiro Douglas. Desconhecido do público mato-grossense, o arqueiro mixtense
pegou até pensamento, como se diz, com evidente exagero, nos meios esportivos...
Apesar das defesas
milagrosas de Douglas, a torcida do União não perdia a esperança e a fé de que
a qualquer momento surgir o gol que significaria a conquista do sonhado título.
E surgiu mesmo, mas a favor do massacrado Mixto. No 2º tempo, Jean cobrou um
escanteio à meia altura, a zaga colorada rebateu a bola, que sobrou para o
zagueiro Evandro abrir o placar.
Encerrado o jogo, começaram
as cenas de selvageria no Luthero Lopes. A Polícia Militar entrou em cena,
usando de todos os meios na tentativa de evitar depredações no estádio. E
também para proteger o pessoal da imprensa, que só conseguiu deixar o estádio
muito tempo depois, sob escolta da PM. A fúria da torcida chegou a tal nível
que até banheiros químicos foram arremessados das arquibancadas e das gerais
para o chão. Inclusive com torcedor dentro.
Foi aí que os dois espertos radialistas
decidiram sair do estádio no meio dos torcedores do União sem ser reconhecidos.
A arriscada estratégia deu certo, pois apesar do medo com que conviveram por
longos minutos, saíram do estádio ilesos, ao contrário de muita gente que levou
porradas pra valer...